Wednesday, May 25, 2011

Odisséia no Espaço – CCA Kunsthalle Curadoria: Friederike Nymphius 23.4.2011 – 30.06.2011


A pergunta sobre os sentidos da visão é recorrente em nossas vidas e também está presente em uma musica de David Bowie que embalou a exposição com o mesmo nome do seu hit “Odisséia no Espaço”. A curadora Friederike Nymphius concebeu uma coletiva internacional especialmente para o Kunsthalle CCA Andtratx que explora a noção de arte, espaço e suas interações com as percepções dos visitantes.

Ao andar pela exposição me sinto em uma nova realidade psicodélica, a musica de Bowie de fundo em minha cabeça enquanto olho fascinada para as pinturas murais de Peter Kogler e Terry Haggerty que parecem sair da parede ao ponto de poder tocá-las. Relevos que te levam a outra dimensão. Um trecho da musica ilustra essa idéia: “mesmo ao estar a cem mil milhas por hora me sinto bem parado”.

Continuo minha viagem neste novo reino de percepções e me lembro da teoria Foucaultiana de Heterotopia, espaços que existem como antítese ou alternativa para o espaço real. Em um primeiro momento essa questão do espaço pode não ficar tão evidente em trabalhos como os quadros abstratos de Yago Hortal com suas formas expressionistas e cores fluorescentes, por exemplo. Mas, para ele é como criar novos mundos, novas realidades “uma gota já cria espaço no suporte”, explica. Essa idéia fortalece o contexto curatorial de Friederike.

Muitos artistas que estão na crista da onda hoje estão na exposição, como Martin Creed, que ganhou o Prêmio Turner em 2001, e John Armleder. Este último apresentou várias obras, uma delas tubos de neon que recordam as esculturas minimalistas de Dan Flavin. A percepção é logo ativada e nos conscientizamos dela. O espectador é retirado de seu entorno e confrontado individualmente com a experiência e suas conotações. O olho sensível pode sentir as vibrações das luzes de cores diferentes, mas a percepção nos oferece apenas uma ilusão. O olho é enganado por dimensões que parecem materiais mas são apenas visuais, mesmo que pareça poder tocá-las.

Uma interação altamente física é necessária entre indivíduo e obra, faz o espectador compreender que esta interação vai além da mente para a percepção do corpo no espaço. É uma experiência puramente pessoal, uma resposta subjetiva ao trabalho, que precisa do espectador para existir. Armleder também apresenta obras mais figurativas, com objetos comuns do dia a dia para gerar uma reflexão sobre a própria identidade do espectador, pois ao interagir com esses objetos estamos trazendo memórias profundas do inconsciente para a superfície. Estar atento à percepção é um ato subjetivo, um processo simbólico através do qual construímos nossa realidade, nossa identidade.

Nossa identidade também pode ser construída por formas abstratas porque nos relacionamos com elas em outro nível, alem da lógica racional, através dos sentidos, como com a musica. Ai está o poder deste tipo de arte, é um canal para uma conscientização através de novas percepções. Está aberta a interpretações e por isso pode ser percebida diferentemente por várias pessoas. Chegamos assim o mais próximo possível a uma arte universal, pois sem ter limites de ideologias culturais e sociais pode ser apreciada por pessoas de qualquer lugar ou qualquer idade.

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