Thursday, April 14, 2011

Comer Arte


A Arte de Comer, Da Natureza Morta a Ferran Adriá

La Pedreira, Barcelona, até 26 de junho

Arte e comida estão muitas vezes juntas no mesmo prato, inclusive os catalães são tão orgulhosos de sua culinária quanto de sua arquitetura. Por isso a exposição “A Arte de Comer, Da Natureza Morta a Ferran Adriá”, em um dos edifícios mais reconhecidos do arquiteto Antoni Gaudí, tem o sabor da própria cidade.
Ao entrar em uma sala deliciosa com suas formas orgânicas vemos pinturas de frutas e legumes em bandejas. A princípio parece meio antiquado, mas ao vê-las apodrecerem no vídeo “Still Life” (2007) de San Taylor Wood entendemos seu significado de natureza morta. Uma jogada filosófica do artista para mostrar que na verdade estão vivas e por isso morrem com o tempo.

Costumes gastronômicos aparecem em pinturas e ajudam a contar histórias de outros tempos, mas são apenas representações da realidade. Por isso Juan de Espinosa, pintor barroco espanhol, já no século 17 apresentou essa idéia em seu quadro “Natureza Morta com Pássaro Morto” ao fazer alusão ao mito de Zeuxis e as uvas que diz que ele pintou as uvas com tanto realismo que até os pássaros tentaram comê-las.
Ao seguir o recorrido cronológico da exposição chegamos a vanguarda da década de 60 com seus questionamentos sobre o papel do artista e da arte na vida. Para representar essa posição a artista portuguesa Ana Vieira citou Manet com seu famoso “Le Déjeneur sur L´Herbe” em sua instalação “Almoço Campestre” (1971). Para mim é a arte saindo de um plano para entrar na vida, como se pudéssemos comer a pintura.

O design também está presente - como não poderia deixar de ser, já que faz parte de todas as nossas refeições - com utensílios de cozinha e no quadro do artista pop britânico Richard Hamilton em “Hamilton´s Toaster”. Mostra a fascinação de objetos que aparecem para mudar a vida das pessoas refletindo hábitos e costumes em formas significativas, como a arte também faz. Já que arte e vida se tornaram inseparáveis porque não apresentar um restaurante como obra? Foi exatamente o que fez o chef estrela Ferran Adrià em seu restaurante El Bulli, com seus pratos desconstruídos e uma apresentação estética tão visualmente agradável quanto conceitual que levou o catalão a ser o primeiro cozinheiro a participar da Documenta de Kassel em 2007. Fechando com garfo de ouro a exposição.

O tema arte e cozinha dá muito caldo, para saber mais sobre o assunto leia minha matéria na próxima edição impressa da Revista Das Artes que sai em junho.

Monday, April 11, 2011

KKKB

O KKKB, Komando Kultura Kontemporanea de Barcelona, é um espaço de exposições sem fins lucrativos aberto às novas práticas e discursos da arte contemporânea. Inaugurou 2011 com “It’s Alive, It’s Alive”, a primeira de uma série de exposições que serão apresentadas mensalmente no local. A mostra traz fotos e vídeos feitos com máquinas analógicas, como polaróides e super 8, seguindo a tendência das exposições de arquivos que compõem ¼ das produções dos últimos 12 anos. Um impulso de resgatar memórias para construir destinos. A vontade de apropriação do efêmero está claramente estampada no trabalho de Yosigo, fotos do céu com nuvens, assim como na obra “Mar Amar” de Juan Diego Tobalina, onde além das imagens o artista apresentou cópias Xerox para contradizer Walter Benjamin e mostrar que a reprodução não acabou com a aura da obra de arte. A curadora Eneka Fernández Entenza foi a ganhadora da última seleção para as exposições do KKKB, em fevereiro abre nova convocatória pelo site e poderão participar interessados de qualquer parte do mundo.

Encruzilhada

O nome da exposição “Encruzilhada” revela perfeitamente o momento em que a arte se encontra hoje, entre espectadores perplexos diante de trabalhos que não sabem se consideram arte e outros estupefatos pelas novidades apresentadas. O trabalho de Gustavo funcionou perfeitamente como porta de entrada por onde se podia sentir a nova experiência proposta pela arte de hoje caminhando sob caixas de papelão, mas sem deixar para trás as formas estéticas que a arte nos ajudou a perceber na vida, como as sombras que o carrinho de supermercado pintava na parede. Seu trabalho faz esta ponte entre o que está fora - na rua - e o que está dentro da galeria, convidando a todos a participar desta conformação que a define como arte.