Thursday, March 18, 2010

A Miopia da Arte


A situação em que a arte se encontra hoje se tornou tema de muita polêmica. Mas desde que se começou a pensar a arte e buscar determinar conceitos para ela, existe a declaração de que está em crise. A proximidade com as mudanças é a causa dessa confusão, pois quando não temos uma distância temporal para analisá-la e compará-la com outros momentos, é impossível conseguir determinar um conceito para ela.

É necessário ter uma perspectiva histórica para compreender as mudanças que ocorrem no momento que está se vivendo. Por enquanto estamos no meio do turbilhão de mudanças e não conseguimos entender o que se passa na produção de arte do nosso tempo. Vamos precisar esperar mais alguns anos para poder criar um discurso sobre o que estamos passando.

A arte clássica só foi determinada assim durante o renascimento, quando se criou uma inteligibilidade para analisar tal contexto. O mesmo aconteceu durante o modernismo diante do pânico das mudanças que ocorreram, inclusive gerando em muitos a constatação de que a arte havia acabado. Atitude natural diante de uma tentativa de ruptura com padrões. Até hoje não nos recuperamos da perda de ideais e modelos de arte tradicionais como a beleza e a pintura.

Mas é um caminho natural para apropriar as mudanças e encaixá-las no trilho da História. No embate entre forças conservadoras e progressivas, surge sempre a teoria de morte da arte. Na verdade, a arte não morre, ela apenas muda para acompanhar as transformações da sociedade. Então, é necessário se criar um discurso novo para seguir pensando a arte. Isso tudo diante de uma perspectiva histórica, já que dentro desse panorama cabem diversos tipos de arte, inclusive a arte primitiva (ou pré-histórica). Porém, devemos continuar analisando a arte sob esta ótica? Afinal, essa perspectiva surgiu apenas depois que se buscou criar um discurso para a arte, ou seja, a História da Arte.

Hegel tentou acabar com essa perspectiva histórica ao afirmar que o valor da arte estava na consciência do indivíduo no momento em que ele cria a obra e não no que foi dito sobre ela depois. Ele foi o primeiro a declarar a morte da arte e tirá-la dos trilhos da história. Com ele surgiu a arte pós-histórica, que não se baseava mais em modelos tradicionais e isso acabou abrindo as portas para qualquer tipo de produção, que se diz arte, ser considerada como tal. Por isso hoje chegamos a coisas tão aquém do que se conhece como arte que muitos se espantam.

Então, não podemos perder a perspectiva histórica, mas devemos adaptar a noção de historicidade para os dias de hoje. Pois a evolução da arte se dá de acordo com a evolução da sociedade, suas mudanças refletem as mudanças da sociedade. Não é mais o estilo que importa, como no modernismo, ou a novidade, como na arte contemporânea, mas sua expressividade enquanto forma, deixando de lado o conteúdo conceitual. A arte está intimamente ligada à vida, desde sempre. Não podemos nos esquecer que os mestres clássicos, mesmo com seus ideais universais, refletiam o mundo de seu tempo, e essa relação com a vida não é fácil de determinar em alguma fórmula.

O discurso que foi criado depois para esse tipo de arte não necessariamente revela o que era na realidade, esse discurso foi determinado por vários fatores: forças do mercado, a cultura dominante, etc. Criou-se uma fórmula para poder existir uma ordem e não acontecer o que aconteceu quando Hegel declarou a morte da arte, ou o nascimento da arte pós-histórica, que abriu caminho para qualquer coisa ser considerada arte. Tudo é uma evolução baseada no passado, então é possível se criar uma narrativa linear. Para se criar esse discurso, pegavam uma obra para exemplificar o modelo do momento. Mas não podemos fazer isso, pois não se pode determinar o contexto geral através de um exemplo só. Devemos analisar a produção geral para entender o que está acontecendo na arte hoje.

Chega de pensar tanto a arte, vamos senti-la! Assim, podemos vê-la através de uma perspectiva mais ampla. As obras de arte existem para serem apreciadas, não discutidas. Já saímos do mundo da razão pura, agora estamos em um mundo de relação e isso se dá através dos sentidos também. Para se compreender o que a arte de hoje significa devemos esperar um pouco e sentir. Depois ela será vista como uma parte da história em que todos sentiam a mesma coisa, como a geração paz e amor, por exemplo, que foi gerada em cima de sentimentos e não de conceitos.