Monday, December 08, 2008

Arte e Vida II


O que é Arte? Esta pergunta é muito mais do que uma simples pergunta sobre o significado da arte, ela é a força transformadora da arte em si. O questionamento do que á arte levou a rupturas e experimentações limítrofes para entendê-la. Ao compararmos a arte de hoje com a de duzentos anos atrás podemos perceber que ela passou por muitas transformações. Por isso nunca será possível definir Arte de uma forma fixa. Pois ela é reflexo da sociedade e muda de acordo com o contexto histórico-cultural em que se encontra.
Muitos afirmam que a arte morreu porque não possui mais as características de outrora, em que os valores eram a beleza da forma e o que ela representa.
A morte da arte foi uma teoria usada para legitimar as transformações que a arte sofreu ao longo dos anos. Primeiro, em Hegel - quando o conteúdo estava se tornando mais importante que a forma - ele afirmou que a arte era trans-histórica, que deixou de existir fora dos padrões históricos que seguia. Como a herança vinda dos gregos, que valorizava a beleza das formas.
A função da arte para contemplação perdeu sentido depois da Segunda Guerra Mundial, quando os valores ficaram abalados. A arte refletiu isso ao trazer questionamentos. Essa postura filosófica levou a arte para a esfera ideológica, separando-a da realidade. A impossibilidade de representar o mundo, função perdida para a fotografia e exagerada no Modernismo com a valorização da forma, levou a separação entre arte e vida.
Desde então, o conteúdo foi valorizado, até mesmo no Impressionismo e na arte abstrata, que também foram rupturas com os padrões existentes para questionar a percepção do homem no mundo e levar a arte a extremos com a experimentação. Ao mesmo tempo, a impossibilidade de compreender o mundo, expressa na arte abstrata também é uma busca para definir o sentido da arte e uma tentativa de uni-la à vida através de uma contestação.
A arte conceitual foi a confirmação da tese de Hegel, de que a arte morre quando ela se torna filosofia. Essa teoria foi depois desenvolvida por teóricos modernos, como Greenberg e Arthur Danto; e artistas como Duchamp e Warhol, que buscaram romper com a autonomia da arte que separava a arte da vida, fortalecida pelo movimento modernista europeu. Eles tentaram apagar a fronteira entre arte e vida trazendo para a arte objetos e temas da vida real.
Ao mesmo tempo que a arte se uniu à vida como uma forma de existência das coisas, ela também acabou com o sentido de Arte como conhecemos. A arte conceitual trouxe a percepção de que tudo na vida é potencialmente estético. A explosão estética pode ser percebida quando se levanta a questão: aonde está a arte?


Mas, se tudo é arte, nada é.
A perda de sentido da arte foi percebida principalmente quando ela se tornou mercadoria. A obra de arte, como meio de comunicação, revela os valores dominantes da sociedade atual. Quando a arte expõe uma verdade, que é identificada pela maioria, ela cumpre a sua função. Arte pode ser pensada ou sentida, seu valor está em quanto ela toca a maior parte das pessoas.
Toda essa transgressão que a arte sofreu para tentar defini-la, acabou levando ao pensamento de que tudo pode ser arte. Unindo assim o que a autonomia da arte havia apagado.
Hoje o conceito de arte é muito mais abrangente. Até mesmo um saco plástico voando pode ser considerado arte, facilitado pelo meio de apreendê-lo, como o vídeo, por exemplo. Depois de vermos toda a versatilidade sem limites que a arte pode sofrer até perder seu sentido, percebemos que isso demonstrou que a beleza estética e o sentido artístico pode ser visto no nosso cotidiano.
A Arte passou por um momento de reflexão da sua própria natureza para a enxergarmos com outros olhos, e ver que ela nos ensina a perceber a beleza no mundo.

Arte e Vida I


A arte reproduz a situação atual e por isso faz parte da vida. Ela não pode ser limitada a determinações de tendências e estilos, pois ela é fruto da subjetividade de indivíduos. Hoje a arte não segue padrões, refletindo assim a diversidade da sociedade pós–moderna.
O surgimento do mercado de arte foi um dos maiores responsáveis pela classificação dos objetos artísticos, junto com as determinações estipuladas pelos críticos para o desenvolvimento da arte. A busca pela mudança é uma característica do capitalismo e na arte se transforma em uma ruptura com a tradição com a busca pela novidade. A busca do novo pelo novo faz com que a arte se afaste cada vez mais de suas origens.
Para Hegel, quando a arte deixa de expressar a universalidade dos sentimentos para pintar traços individuais ela começa a perecer. Segundo ele, a representação de uma subjetividade particularizada leva ao fim da arte, pois a afasta cada vez mais do universal. O Modernismo deixou de lado os valores divinos para valorizar as representações individuais dos artistas. Mas parte da subjetividade individual reflete o contexto do momento histórico e por isso não pode seguir normas pré-estabelecidas.

Toda vez que a arte sofria uma profunda transformação em sua natureza, falava-se em morte da arte. A questão da morte da arte rondou o Modernismo depois que as tendências radicais adotaram a ruptura como inspiração para sua arte transgressora. A arte moderna trouxe em si uma ruptura, já que projeta a subjetividade do artista sem a intermediação de símbolos culturais. Ao tentar criticar o mundo, os modernistas acabaram levando suas desconstruções para o âmbito da arte e acabou separando-a cada vez mais da vida. Tornando-a autônoma de qualquer representação da realidade que contestava. Esse paradoxo está presente no expressionismo abstrato, que busca debater as questões da vida, mas através de formas incompreensíveis. Mas que, para eles, é exatamente a expressão do mundo como vista por seus espectadores: sem sentido.

A arte moderna se caracteriza pela transgressão. Seu êxito consiste em ultrapassar seus limites. Um dos critérios de avaliação da obra parece ser pôr em discussão seu estatuto. Processo que começou com a antiarte de Duchamp. A ruptura provocada por Duchamp partiu de uma intenção subjetiva, mas que estava envolvida com o pensamento da época Os readymades não são obras de arte, mas manifestações. Primeiro passo em direção a antiarte, que trazia em si a valorização do conteúdo com a contestação e a busca pelo significado do que é arte.

Ao contrário dos movimentos de negação da realidade a arte pop volta a ter uma relação frutífera com a cultura comercial, utilizando-a como matéria prima. Assim, a arte pop acabou levando a uma libertação de padrões e legitimou a pluralidade de manifestações. A diversidade de materiais e temas não permite que se encaixe em categorias e conceitos, por isso não é possível delimitar estilos.
Os artistas que chocam com suas criações estão tentando criar novos valores estéticos através da provocação de nossos sentidos. A sensibilidade é uma construção sócio-cultural e está sendo reformulada pelos artistas contemporâneos. Ela continua a ser o propósito último da arte, mas deixou de ser despertada pela beleza e passou a ser pelo impacto, pelo estranhamento. Por isso se aceita a teoria da morte da arte. Hoje, temos que buscar aceitar a totalidade das transformações que a arte sofreu pois é isso que a aproxima de nós, já que ela é um registro das transformações que nós também passamos.
A aproximação da arte com a vida acabou salvando-a de sua morte em vez de matá-la, como muitos acreditam. Assim, a tentativa da vanguarda de valorizar a obra por seu valor de ruptura acabou sendo ultrapassada pela vontade de unir arte e vida. Por isso, hoje a arte está livre. Hoje a arte é livre pois ela ultrapassou as barreiras dos critérios de delimitação que buscavam categorizá-la em estilos, de acordo com tendências.
Mesmo que sua função contemplativa tenha acabado, a arte continua viva. Hoje sua função é participativa, depende da reflexão dos espectadores. Hoje, sua função é mais engajada. A arte se posiciona como uma forma de comunicação entre as pessoas que podem se ver refletidas nas produções artísticas. A união entre arte e vida foi selada novamente. A arte pode ser um instrumento de modificação do mundo porque está, agora mais que nunca, participando ativamente de nossas vidas. Esta aproximação da arte com a realidade abre a possibilidade de qualquer um que tenha algo importante para dizer ao mundo tenha um veículo para comunicar a sua mensagem. Hoje ela está mais viva que nunca, como uma energia fundamental para as nossas vidas.