Wednesday, October 14, 2009
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Contracapa
Diante de uma discussão muito vasta sobre a definição de “O que é Arte?”, surge uma questão que me intrigou muito: a teoria sobre a morte da arte. Em um primeiro momento me perguntei, como é possível a morte da obra de arte se ainda podemos visitar exposições em museus e galerias de arte?
Depois de me debruçar em textos de autores como Kant, Shopenhauer, Hegel e mais atuais como Ferreira Gullar, Clement Greenberg e Arthur Danto, entre outros - vi que a questão vai para um campo muito mais filosófico do que artístico.
A necessidade de definir arte vai além da sua função prática e acaba levando-a para o campo da Filosofia. Assim, ela deixou de lado o sensível para se voltar para o racional e se tornou objeto de estudo. Isso acabou levando teóricos a acreditarem que Arte como conheciam havia morrido, pois não estava seguindo um desenvolvimento progressivo de acordo com a História da Arte até então.
Aqui vamos discutir as teorias e pensamentos que surgiram para acompanhar as transformações na forma e no conteúdo das obras de arte, para mostrar que a teoria de morte da arte não quer dizer que a arte acabou. Ela é apenas uma idéia utilizada para legitimar as criações que estão por vir.
A arte nunca morre, pois ela reflete as mudanças da sociedade de um contexto para outro. Depois que o conceito de Arte foi inventado, a busca por uma definição única gerou mais questionamentos. Arte não pode ter uma determinação fixa, pois sua essência é a de constante transformação. Ela reproduz a situação social em que vivemos e por isso faz parte da vida.
Introdução
Hoje, a produção artística não segue padrões e não tem limites. A pluralidade é uma característica da pós-modernidade. “Se tudo é arte, nada é”, afirma Ferreira Gullar. Seria esta a confirmação da teoria da morte da arte que nos acompanha desde Hegel?
O filósofo clássico alemão já apontava as profundas transformações em sua natureza, que permanecem até hoje. Ele condenou todas as artes produzidas depois dos gregos como “pós-histórica”, já que deixaram de seguir tal modelo de desenvolvimento. A valorização do conteúdo em vez da forma foi uma das condições que levaram a construção desta teoria. Para Hegel, a morte da arte é quando ela se torna Filosofia.
Filósofos modernos, como Clement Greenberg, seguem a visão evolucionista. Acreditam que a arte segue um desenvolvimento progressivo. Gianni Vattimo e Arthur Danto, filósofos da pós-modernidade, possuem uma visão de que a arte não segue uma ordem e não pode ter um desenvolvimento histórico. Danto, que segue a visão essencialista, afirma que a arte não tem uma natureza única, sua essência é a da constante transformação. Para ele, na verdade ela muda de acordo com o contexto histórico e tem como sua essência a constante mudança. Esse pensamento de não seguir uma ordem é típica do pós-modernismo que diz que a arte está em constante transformação e não existe um padrão exato para ela. Para os essencialistas, a arte chegou ao fim quando percebemos o fim dessa sua historicidade. Ou seja, a definição de arte que depende dessa historicidade, acabou.
Cada época tem na arte o reflexo da verdade do seu tempo, o que Hegel chama de Espírito. A busca por um sentido para a arte deve ser feita a partir de uma perspectiva do momento histórico onde se encontra o artista e não o espectador. Hoje não podemos apreender a arte clássica da mesma maneira que os gregos quando esta foi criada.
A valorização das obras de outras épocas ocorre devido à classificação das obras de arte de acordo com conceitos inventados pela Estética no século XIX, que foram bastante utilizados e difundidos pelo mercado de arte desde então. Principalmente, entre os críticos que passaram a determinar o que é arte e o que não é.
A necessidade de criar determinações de estilos é um pensamento moderno e existe para legitimar as novas formas de arte que surgem. Mesmo que isso impeça a arte de se desenvolver livremente, pois passa a ser criada a partir de uma pré-concepção racional.
Ao analisarmos a História da Arte podemos ver que ela é feita de rupturas em suas formas e conteúdos para acabar com os padrões tradicionais e abrir espaço para as novas manifestações artísticas que estão por vir. Por isso as definições e teorias elaboradas a seu respeito devem ser sempre atualizadas, muitas vezes sendo quebradas.
As transformações da arte servirão como pano de fundo para esta análise, principalmente as ocorridas durante a Modernidade, que foi uma época de questionamentos e rupturas.
As características principais de movimentos e artistas importantes serão apresentados superficialmente, apenas para retratar o contexto que levou às mudanças naqueles momentos.
Uma breve historia da arte:
Muito do que sabemos das antigas sociedades vêm da arte que elas produziram. Como as pinturas rupestres, as pinturas nas paredes do Egito, nos vasos gregos e nos vitrais dos mosteiros da Idade Média.
Na Idade Média, a arte estava completamente comprometida com a difusão do Catolicismo na Europa. Houve uma ruptura com as características vindas da Grécia.
O Renascimento trouxe uma ruptura com a tendência obscura de arte Medieval e a renovou com os ideais gregos no Neoclassicismo, que voltou a dar valor ao sujeito. Nessa época criou-se a tinta a óleo, a tela e o cavalete.
O período Barroco é um desdobramento do Renascimento. A Igreja Católica queria romper com a temática do Renascimento e mais uma vez voltar a temática espiritual (dualidade: luz/sombra), buscando envolver emocionalmente as pessoas.
No Neoclassicismo desaparecem os temas religiosos, para dar lugar as imagens históricas e temas do cotidiano. As formas eram geométricas e simétricas em contrareação ao Barroco.
O Romantismo rejeitou as idéias iluministas e a estética neoclássica. Buscava causar emoção.
O Realismo foi uma reação ao Romantismo, se desenvolveu baseado na observação da realidade, da razão e da ciência. O movimento também se revoltou contra os temas históricos, mitológicos ou religiosos, em favor das cenas não idealizadas da vida moderna.
A ruptura do Impressionismo ocorreu devido ao surgimento da fotografia que levou os pintores a desconstruírem as imagens.
Em contraposição, o Expressionismo se preocupava em retratar o interior do artista, em vez do que ele via no exterior.
No Cubismo, as figuras eram totalmente desconstruídas e as obras eram valorizadas pela sua funcionalidade, não pelo que representam.
Para a concepção - típica do pensamento moderno - de que o processo de desenvolvimento das artes se dá progressivamente, de forma contínua, é necessário romper com o passado para que uma nova forma de arte possa surgir. Mas a arte não evolui, ela muda.
Por isso, não é necessário seguir um ordenamento cronológico para explicar a História da Arte, pois não é possível traçar uma trajetória linear para o seu desenvolvimento. Sua trajetória não segue um progresso ordenado, mas muda abruptamente e a definição de arte se transforma junto com ela.
Arte passou a ser vista filosóficamente desde os Gregos, no período que vai de 600 a.c até 200 a.c. Nessa época, Platão e Aristóteles já teorizavam sobre o que é arte. Desde então, o conceito de arte foi reinventado várias vezes.
A Estética só foi inventada no Renascimento, época de Kant e Shopenhauer. Quando as teorias foram buscar nos gregos os ideais de harmonia e beleza para formar uma categorização para a arte. O Renascimento deu início a verdadeira classificação das artes, incluindo criações anteriores que nem sabiam que o que estavam fazendo mais tarde seria chamado assim. As pinturas rupestres, por exemplo, tinham uma função narrativa. Elas eram usadas no cotidiano para contar histórias de caças e lendas de deuses. Não eram feitas para seguir um conceito estético.
O Romantismo traz para a arte a concepção iluminista de que tudo é resultado de um pensar. A arte passou a ser vista como um pensar através de imagens. Inicia-se as concepções de Belo e Sublime, em Kant e a arte passa a ser vista como conhecimento puro em Shopenhauer, criando assim a metafísica da arte. Tirando-a de sua função prática e passando a uma função filosófica. A sensação é vista como consciência pelos impressionistas de 1880. Cézanne via na apreensão através da retina a possibilidade de uma compreensão ontológica da arte, e assim um canal para sua essência. Estando ainda intimamente ligada à metafísica estética. A filosofia da arte e a arte em si se misturaram e cada vez mais a arte vai se afastando do sensível.
Mas a definição que separou arte de artesanato foi também o que separou a arte da vida. Pois antes, a criação artística era uma conseqüência da necessidade funcional do objeto artesanal que agora passa a ser visto como artístico.
Quando a arte se separou do artesanato, ela perdeu a sua funcionalidade utilitária, como necessidade real do momento. Quando o espírito criativo era livre, dentro do trabalho artesanal, era arte “verdadeira”. Pois expressa a experiência de realidade. Ela estava inserida na sociedade através de sua funcionalidade, a expressão artística era conseqüência. A arte para contemplação explodiu no Renascimento, quando ocorre um resgate dos valores universais da arte para sair um pouco da subjetividade particularizada.
A valorização da subjetividade do indivíduo foi a porta de entrada para o conceito na arte, pois ela saiu do universal e passou ao particular. Isso acabou gerando padrões que eram determinados pelos críticos de acordo com seu gosto.
A presença da subjetividade do artista enquanto portador de um verdadeiro saber da sua época permite criar uma arte natural. A verdadeira arte é um fazer sem nenhum compromisso racional, deve nascer de uma necessidade espontânea de se expressar. Sua funcionalidade está na necessidade desse fazer. Nessa materialização do fazer está presente toda a experiência do artista, que condensa na sua obra o contexto em que ele vive. Assim, a obra é um produto natural dessa necessidade de expressão. Antes da separação entre arte e vida, no Romantismo, era assim. Ultimamente isso se perdeu. A arte nesse sentido não existe mais. Quando ele cria a partir de um conceito pré-determinado em relação aquilo que está sendo considerado como arte, leva ao esvaziamento do verdadeiro sentido da arte.
O Neoclassicimo é um exemplo da arte fora de sua funcionalidade. Uma arte criada sob uma perspectiva do significado da própria arte, a partir dos conceitos da arte clássica. É um revival em busca da arte quando ela ainda era livre de conceitos, quando ela era feita sem saber sobre a existência de um conceito de arte.
A separação entre arte e realidade, presente na concepção de que a função da arte é apenas a contemplação, começou com o processo de autonomia da arte. Todo o desenvolvimento da “arte pela arte” que aconteceu no Modernismo acabou afastando a arte do povo. O isolamento da arte levou à sua própria morte, pois seu conteúdo artístico se baseou em idéias, cada vez mais subjetivas.
A obra de arte deixou de expressar as verdades eternas e passou a expressar verdades efêmeras. Assim, a arte se tornou experiência coletiva de comunicação através de símbolos e valores que são considerados artísticos de acordo com o contexto histórico no qual se insere.
A estética enquanto compreensão da forma como significante retornou em Kandinsky, mas a arte continuava a ser vista de fora como uma prática conceitual, não buscavam a sua função dentro da sociedade. Sua experiência era teorizada por quem determinava as tendências. E assim, abriu-se espaço para o surgimento da anti-arte, que era produzida como uma forma de questionar o que estava sendo considerado arte. E a provocação dos sentidos se perdeu na confusão intelectual de rupturas e questionamentos da época.
O pós-guerra trouxe o surgimento de uma mentalidade artística totalmente nova, desligada de toda bagagem cultural desenvolvida na Europa, que havia acabado junto com a guerra. O Expressionismo Abstrato quis demonstrar através de suas formas de representações de conteúdo incompreensíveis para o público que os valores de outrora haviam sido destruídos pela guerra. Buscando assim voltar a uma apreensão estética sensível da arte. Dessa forma, a arte não tinha funcionalidade alguma. Por isso a década de 60 foi buscar na cultura Pop algo que pudesse descrever a condição da sociedade de então. Sua funcionalidade era servir como meio de comunicação da cultura de massa.
A busca pela definição do que é arte é exatamente um questionamento sobre a própria natureza da arte, o que acabou causando experimentações que passaram dos limites tentando encontrar um significado determinado.
Para muitos, foi o que aconteceu quando Duchamp colocou o urinol no museu como obra. Com seu ato de transgressão, ele buscou definir a arte através de uma comparação com os objetos do cotidiano, despertando no espectador uma idéia em vez de sensações. Assim, ele questionou seu próprio estatuto, o que acabou causando talvez a maior ruptura no mundo das artes, abrindo espaço para uma diversidade na produção artística. Outro gênio que contribuiu muito para a liberdade que a arte tem hoje foi Andy Warhol, que previu a condição pós-moderna - de que a arte pode estar em qualquer lugar - em suas obras.
A profecia de Hegel será tema do primeiro capítulo, em que será trabalhada também a questão da experiência estética em Kant.
No segundo capítulo, farei uma exposição de como o conceito de arte foi inventado.
No terceiro capítulo será tratada a questão da ruptura tão presente nas vanguardas. Duchamp será o foco principal da análise. Sua obra é reflexo da negação presente no pensamento da época e fruto de sua subjetividade contestadora. Os readymades, criações suas que se tornaram ícones desse contexto artístico, são objetos industriais que se tornam obras de arte sem nem sequer sofrer qualquer transformação pelo artista a não ser o gesto de colocá-lo como obra. Assim, deixou de lado a forma para valorizar a idéia determinada pelo artista, ou melhor, o conteúdo. Abrindo assim a porta para a arte conceitual, que é a confirmação da tese de Hegel, já que valoriza a idéia, se aproximando então da Filosofia.
O último capítulo traz as teorias sobre a morte da arte em Ferreira Gullar, Clement Greenberg, Arthur Danto e Gianni Vattimo. Todos teóricos e críticos de arte contemporâneos. Gullar compartilha da mesma idéia de Hegel, de que “o fim da arte é quando ela se torna conceito”. Ele afirma que a busca do novo levou a um esvaziamento do significado da arte, mas não à sua morte. Hoje ela pode ser qualquer coisa. Assim, o que morreu foi o significado de arte como a conhecíamos.
O que antes deveria seguir um modelo, um padrão, agora só precisa do aval de um artista ou de um crítico para ser considerado arte. Hoje, os museus expõem obras cada vez mais difíceis de serem apreendidas pelo espectador comum, até porque com tanta sede de transgressão acabou se esquecendo da beleza e de outros valores que tornam a arte um meio para atingir a nossa alma, universalmente, através da sensibilidade.
Hoje o desenvolvimento artístico vai para o lado contrário, busca uma reaproximação da arte com a vida. Muitas vezes, trazendo questões políticas e sociais que acabam ajudando no reconhecimento da sociedade em si mesma. Por isso vemos como característica principal da Arte Contemporânea a apropriação de materiais do cotidiano para usá-los em seu sentido próprio, causando uma transfiguração do objeto em arte. Sua função é nos fazer compreender o sentido de “estar no mundo” hoje.
A busca por um significado relevante para a arte levou ao esgotamento da metafísica da arte, que buscava um conteúdo que representasse o momento histórico. A arte então deixou de ir para o lado filosófico e passou a se aproximar mais da vida. Primeiro, com a Arte Pop, que não seguia os padrões estéticos do Belo, mas que demonstra a mentalidade daquele contexto. Quando a arte finalmente renunciou à metafísica, ela voltou a ter sua funcionalidade.
A busca pela definição do que é arte sempre existiu e por isso ela sempre esteve intimamente ligada à Filosofia. Pois, deixamos de vê-la através da nossa sensibilidade e passamos a apreendê-la intelectualmente. Essa “definição” acaba sendo um modo de conhecer a própria sociedade e a sua época. Mas a busca por essa definição não é arte. É filosofia da arte. Na prática, a arte deve ser definida pela sua função no mundo. A pergunta deve ser: Como devemos ver a arte hoje?
Se a historia da arte chegou ao fim, qual é a situação que a arte se encontra agora? Temos que encontrar uma teoria para a arte hoje. Para saber para onde está indo, temos que escrever sua história atual. Não devemos nos perguntar o que é arte, mas como ela funciona no mundo hoje. A função do historiador de arte é descobrir essa função no momento. Para mim, existe uma transformação que segue uma ordem, aquela que reflete o momento histórico em que estamos. Temos que achar a função da arte no nosso momento para saber para onde ela está indo.
Tuesday, August 04, 2009
ARTE DE LIVRE EXPRESSÃO E A VERDADE DO MUNDO
A verdadeira arte é aquela que parte da livre expressão do artista e mostra a verdade do mundo.
A realidade é uma, vista aos olhos do mundo, criada pela mídia, e outra, viva nas expressões de quem não se enquadra no sistema.
A sociedade costuma criar ordens para controlar as manifestações culturais através do monopólio de gostos e valores, gerando regras e tendências.
A arte de rua está livre dos valores materiais, como o dinheiro. Não é como a arte que está dentro do sistema das artes, nos leilões e bienais, manipulada pela crítica.
Os artistas de arte urbana usam a cidade como suporte porque eles não são legitimados por essas pessoas que determinam como é a arte que vai estar nas exposições.
EX: BASQUIAT
Mas a arte de rua está ganhando cada vez mais espaço dentro desse grupo. Será que ela se mantém como livre expressão ou já está se enquadrando no sistema?
A publicidade é manipulada pela indústria cultural que nivela tudo de acordo com o gosto da massa.
Mas às vezes podemos ver peças publicitárias com expressões artísticas, como durante a revolução socialista em que o Estado investiu nos artistas do construtivismo para criar cartazes de propaganda política.
Um dos casos em que a arte que nascia da livre expressão foi integrada ao sistema da indústria cultural.
A arte de rua é uma campanha publicitária, mas do marketing de guerrilha, que é contra os valores da cultura de massa dominante.
É uma forma de contestar a ordem do mundo, criada por uma sociedade manipuladora.
É essa livre expressão que nos mostra a verdade que nasce do espírito humano, através da manifestação pura.
Mas a arte não é pura em sua autonomia, mas sim na sua interação com a vida.
A verdadeira arte é aquela que revela a verdade na vida.
Comentários são bemvindos!
Thursday, April 23, 2009
$$ O valor da arte $$
Todas as artes são reflexo da sociedade, mas só as artes plásticas tem a particularidade de ter uma materialidade como obra única. Com isso se assemelha ao dinheiro, pois ambos possuem um valor atribuído que pode ser considerado metafórico. Buscam sempre o equilíbrio entre o valor objetivo (material) e o subjetivo (virtual). Forças opostas que sempre se manifestaram, tanto na vida quanto na arte. Fazer um paralelo entre o mercado de arte e o mercado financeiro nos mostra uma saída para a crise através da arte: voltar à sensibilidade que foi corrompida pela razão.
Assim como as obras de arte, o dinheiro é uma testemunha das épocas. A exposição da Galeria de Valores do CCBB, com curadoria de Denise Mattar, conta a História da Civilização através das características do dinheiro, com uma sala dedicada a História do Brasil. Muitas das moedas e cédulas tem qualidades estéticas espetaculares, feitas por grandes artistas. Ao expor o dinheiro na galeria, se desvela imagens e significados antes não percebidos.
A artista plástica Patrícia Bowles criou animais encobertos por notas de Real. Cada bicho corresponde ao que está na cédula. “Na ideia de vestir com a colagem de xerox de dinheiro corrente, tive como principal objetivo trazer a importância daquilo que o próprio dinheiro está retratando de fato. Um pensar ecológico”.
Ao transfigurar o dinheiro em obra de arte estão desmistificando o seu valor financeiro em valor estético. Como Waltércio Caldas em Dinheiro para treinamento, de1977. Quase um gesto Duchampiano para sacudir a percepção enquadrada que as artes plásticas se encontram. Já que os artistas contemporâneos ainda estão presos à idéia de vanguarda e continuam perdidos em busca da novidade que mais choca. Tudo financiado pelas leis do mercado. Ao desmistificar o dinheiro, a arte o coloca em outro plano para vermos – principalmente hoje, através da perspectiva da crise - a irrealidade do valor financeiro, na arte como na vida.
As moedas na Grécia eram feitas artesanalmente para serem aplicadas na sociedade. “A exposição vai costurando esse universo. Na sala A aventura do dinheiro, a gente faz todo o percurso histórico, desde a primeira moeda, o Starter, e vai até o celular, já que o dinheiro sempre teve um valor virtual. O dinheiro na verdade é uma metáfora”, explica Denise Mattar. As artes plásticas também tem um valor de troca, que depende do valor material mais o valor atribuído, que é determinado por interesses e um consenso entre os compradores. E como o mercado financeiro, possibilita a especulação.
O mercado dita as regras. Hoje um Damien Hirst vale mais que um Rafael! Porque? Os marchands não tem interesse porque essas obras já foram todas encaminhadas. O deslocamento do interesse vai para onde tem mais para vender. Agora é a novidade que vale, e quanto mais famoso melhor. Nem os artistas estão mais preocupados com a sua linguagem ou expressão, estão mais interessados na fama.
O que gerou isso inicialmente foi a perda de referência da crítica ao aprovar tudo que é novo, com medo de estar deixando de fora algum gênio. Com isso se perdeu os parâmetros do que é realmente bom na arte. “Tem uma coisa que de fato determina o valor dos artistas ao longo da História, que é o quanto de inovação ele traz para aquele momento histórico. Pegando o exemplo do Damien Hirst ele foi um artista que trouxe novidade, tanto quanto o Hélio Oiticica, a Lygia Clark. Ao longo da História foi assim, com os impressionistas, etc.”, comenta Denise. Mas essa é uma percepção atual. Van Gogh não vendeu em vida, agora seu valor de mercado é astronômico. Na época não tinham essa noção, hoje reconhecem a inovação no Damien Hirst como o valor da arte.
Hoje, o que legitima o artista é o sucesso que ele faz. Muitos milionários que não sabem onde gastar pensam que o melhor é o mais caro porque confiam no gosto do mercado, e muitas vezes esse jogo de interesses tem um efeito dominó, um compra e logo todos vão querer. Na maioria das vezes eles estão sendo manipulados. Os leilões dão lances falsos toda hora. No de Damien Hirst teve lances dados por ele mesmo para subir os preços de seus trabalhos. Alimentando a máquina de fazer dinheiro do capitalismo.
A obra de arte se tornou mercadoria há muito tempo, como nos mostrou Walter Benjamin. Desde o Renascimento, quando surgiu o mercado de arte, o entendimento da aura da obra de arte foi corrompido pela razão. A racionalidade bárbara da guerra foi o que impulsionou os movimentos modernistas que se revoltavam contra a desumanização do pensamento racional. O Expressionismo busca ressaltar as paixões enquanto o Cubismo a lógica do Cubismo, por exemplo. A História da Arte e da Civilização estão sempre num embate entre a objetivação e a subjetividade.
Quando surge um valor financeiro para arte, que vai além da criatividade ou da qualidade do trabalho, se esvazia seu verdadeiro sentido. Seu poder de atingir nossa alma se perdeu. O dinheiro foi se tornando mais virtual e arte foi se tornando cada vez mais conceitual. Com esse ritmo, de dez anos para cá criou-se uma bolha de crédito. Os preços não correspondem a um valor material de fato, pois o valor extrínseco é muito maior.
O sistema de arte se auto-alimenta. Principalmente nos EUA que foi o que mais destacou o valor financeiro do valor da arte em si. Isso gera uma movimentação financeira que acaba acrescentando no valor final da obra. Tudo se baseia num jogo de interesses, entre os curadores, galeristas, colecionadores, etc. Procuram o reconhecimento. Muitos compradores vindos da própria Bolsa de Valores.
A dissimulação de seu real valor tira a característica principal da arte, que é ser vista e despertar os sentidos mais profundos no espectador. Pois, enquanto mercadoria ela vale tanto que acaba sendo guardada a sete chaves em algum lugar que ninguém vê. Cifras fora da capacidade de aquisição dos Museus.
O lobby do mercado de arte e das instituições, característica do capitalismo, é o principal culpado pelo esvaziamento do verdadeiro poder da arte. O capitalismo com sua acumulação desenfreada gerou comportamentos anti-éticos e acabou se esquecendo dos valores humanos.
A crise afetou principalmente esse nicho, obrigando a rever valores. Nesses momentos, geralmente se voltam a investimentos mais seguros. Investidores passam a procurar trabalhos de artistas mais estabelecidos no mercado. Geralmente com uma carreira sólida. Diminuindo a procura por artistas surgidos agora.
Por isso a arte contemporânea, que tem um valor mais especulativo que os modernos, caiu até 30 % de valor. Enquanto as obras primas possuem um valor palpável baseado na sua contribuição para a História da Arte, a arte contemporânea segue opiniões. Mas, tudo é especulação. O leilão do Ives Saint Laurent, por exemplo, em que as peças ganharam pedigree por terem pertencido a ele e não vão estar disponíveis tão cedo, arrecadou mais de 375 milhões de Euros, mesmo com a crise.
A bolha que se formou nos últimos 10 anos - que fez com que as edições da Artforum tivessem mais de 400 páginas (a maioria com anúncios de galerias) - hoje estourou, e a revista voltou a ter 200 páginas. Agora as pessoas vão passar a realmente ver as coisas como elas são, e a verdadeira arte vai permanecer. Só o que é de qualidade vai ficar, as obras que se sustentam em bases sólidas.
“Uma obra prima tem seu valor percebido de imediato pelo impacto emocional que provoca ao observador sensível”, diz Patricia Bowles.
Esses momentos históricos de percepção de que algo está errado, como a acumulação anti-ética e desenfreada do capitalismo, geram mudanças. A arte dá razão para viver. Precisamos voltar a uma arte que emocione, surpreenda, celebrando a vida e não a morte. Hoje temos exemplos de artistas como Vik Muniz e Jorge Guinle, que surpreendem e exaltam a vida.
“Estou sentindo uma volta da pintura, eu acho que está ocorrendo um desejo até dos próprios artistas de voltar a ver pintura. Nos próprios salões, é o que é mais valorizado. É difícil vir uma coisa nova de qualidade e quando vem é valorizado, veja o exemplo da Lúcia Laguna. Seu trabalho não tem novidade, mas é um trabalho bom. Que mexe com você, te traz algo. E é um consenso, todo mundo acha isso”, Denise Mattar opina sobre o momento pós-crise para as artes plásticas.
Temos que mudar essa ditadura capitalista que gerou essa subida artificial dos preços e voltar a ver as coisas da vida sob uma perspectiva menos racional, mais encantada e emotiva. A crise nos fez ver, mais uma vez, que o capitalismo é anti-ético e
Wednesday, March 11, 2009
A verdadeira história da Arte
Era uma vez uma adolescente que se chamava Arte. Ela era uma menina inquieta que estava passando por uma crise de identidade em busca de um estilo próprio. Arte veio de uma família muito conservadora, que pregava conceitos clássicos e seguia padrões do renascimento como a verdadeira forma de ser. Mar Arte era uma menina do tempo, ela refletia a turbulência da modernidade e sentia que já não se encaixava dentro do modelo de seus pais. Que buscavam uma autonomia em relação ao cotidiano humano ao representar ideais divinos e espiritualizados. Achava que se seguisse esse caminho acabaria morrendo, pois não estava em conformidade com a sua época.
Arte queria deixar de viver a vida que seus pais queriam para ela, fechada naquele mundo tradicional. Queria conhecer o mundo dos humanos. Passou a refletir a subjetividade dos artistas em vez de representar a realidade objetivamente, como sua família fazia. O grande sacerdote da época, Hegel, disse a ela que quando começasse a representar traços individuais ela começaria a perecer. Pois estaria deixando de lado a forma para expressar o conteúdo. Mas Arte seguiu seu instinto e entrou em uma viagem de autoconhecimento.
Começou rompendo com todos os padrões tradicionais que sua família impunha a ela. Arte tentou fugir das formas acadêmicas e dos ideais de beleza e passou a se vestir com roupas mais abstratas, que comunicavam uma vontade de questionar sua própria natureza. Mas, cada vez mais ela se afastava da realidade humana e se prendia aos costumes da sua família que buscava autonomia em relação à vida dos humanos. Nesse embate entre forma e conteúdo, passou por diversos estilos, como o impressionismo, expressionismo, simbolismo, surrealismo; tentando encontrar uma representação que se encaixasse nos ideais da sociedade. Mas os tempos eram de crise, ninguém acreditava mais em nada.
Arte então começou a querer se integrar mais à vida dos humanos. Ela passou a se apropriar de objetos do cotidiano e incorporá-los à sua personalidade. Mas não conseguia se afirmar por inteiro, pois seu conteúdo estava vazio por se basear apenas em idéias. Resolveu buscar dentro de si mesma uma opção que trazia à tona sentimentos. Mas as desconstruções dos ideais acabaram afetando Arte em sua própria natureza. Cada vez mais ela extrapolava seus limites como uma forma de transgressão. Ela acabou se tornando abstrata novamente ao tentar expressar o tempo moderno, mas não conseguia encontrar nenhum sentido que desse conta do que a sociedade acreditava. Então, resolveu representar a cultura popular e passou a ter um estilo pop.
Todos diziam que com seu espírito contestador, ela acabaria morrendo, pois com tantas experimentações ela deixou de ter uma base para ser ela mesma. Arte começou a seguir o que os críticos determinavam e acabou se perdendo no mundo capitalista que com a busca do novo a afastou cada vez mais de sua origem. Finalmente, conseguiu legitimar a sua pluralidade de estilos na pós–modernidade. Em sua busca de autoconhecimento, Arte descobriu que ela não tinha um estilo único. Sua natureza é de constante mudança, não precisava seguir os padrões estabelecidos pela tradição. Assim, Arte descobriu que sua essência é refletir o tempo em que os humanos se encontram e por isso ela nunca morrerá.
Thursday, January 29, 2009
Para entender a arte hoje
Ao olharmos para as obras de arte que estão expostas nas grandes bienais de hoje, não conseguimos deixar de pensar que a arte como a conhecíamos deixou de existir. Vemos objetos de uso comum revestidos com significados que trazem questionamentos sobre a arte e a vida.
Depois de tantas experimentações que a arte passou nos últimos tempos em busca de sua definição, temos que nos perguntar em que situação se encontra agora. Para muitos, a História da Arte chegou ao fim na pós-modernidade, pois não é mais possível dar um sentido único para ela. Essa falta de parâmetros levou ao esvaziamento do significado da arte.
Mas então, como pode existir grandes feiras por todo o mundo sobre arte?
Depois de tantas experimentações e questionamentos, conseguimos encontrar uma definição que dê conta da produção artística atual?
A pós-modernidade trouxe o pluralismo de estilos, reedições, citações conceituais, a explosão de meios para a arte e principalmente a aproximação com a vida comum. Mas a arte muda constantemente, de acordo com o contexto social em que se manifesta. Para saber aonde a arte está indo, temos que escrever sua história atual. Temos que encontrar uma teoria para a arte hoje.
Não devemos nos perguntar o que é arte, mas como ela funciona hoje. Pois a arte sempre serviu como uma forma de nos compreender no mundo. A função do historiador da arte é descobrir essa função no momento para saber para onde ela está nos levando.
Hoje a arte busca uma aproximação com as pessoas. Ela sugere uma relação pessoal entre sujeito e objeto de uma forma física. A arte hoje deve ser usada. Exemplos desse tipo estão nas galerias mais contemporâneas, que expõem cabines telefônicas, escadas que levam a apartamentos de outras pessoas, ou bolas com rostos de governantes, etc. Buscando sempre aproximar as pessoas da arte através do jogo, do humor ou da sedução, qualquer coisa que realize uma relação física entre sujeito e objeto. Assim, sua função é participativa.
O que isso quer dizer sobre a atualidade? Estamos cada vez mais nos fechando em casulos cibernéticos que nos propõem o mundo sem sair de casa? E as outras pessoas? Existem apenas virtualmente? A arte de hoje nos incita a sair para as ruas e nos relacionarmos, com coisas, com objetos, com tudo! A mensagem é: a realidade está ai, do lado de fora, saia e aproveite a vida!
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